Ativista da Ong Inverso, Técnica de Enfermagem e formada em história.
Você foi uma das criadoras do bloco de carnaval Rivotrio. Como surgiu a ideia do nome, bloco do Rivotrio?
Eu estava no ônibus chateada e comecei a picar jornal e de lá saiu uma marchinha de carnaval. Eu mostrei a letra ao pessoal da Inverso e o Tonho, amigo nosso, é músico e trabalha no Instituto de Saúde Mental. Ele amou e colocou a melodia na hora.
Na semana seguinte, o primeiro bloco saiu com 12 pessoas, era só Tonho no gogo e o violão. Nós saímos cantando pelos bares e como o nome da marchinha era Rivotrio, quase todos que estavam nos bares tomavam Rivotril e eles se identificaram e saíram acompanhando o bloco. Acabou às 22 e eles já começaram a pensar no próximo carnaval. Isso foi em 2011.
A nossa ideia é transformar o bloco em uma escola de samba mesmo. Pouco depois, o Tonho inscreveu a marchinha em um concurso de marchas para o carnaval do ano seguinte. A nossa marchinha ficou em terceiro lugar e foi tocada no carnaval.
Você participa há muito tempo da luta antimanicomial. Como você ingressou no movimento?
Eu passei por um processo de depressão, fiz muito tratamento em hospital dia. Eu morava aqui perto e tinha uma pessoa dos hospitais dia que era da diretoria da Inverso e sugeriu que eu fosse lá. Estava tão mal que tinha resistência de falar com alguém, durou muito tempo pra conhecer a Inverso. Fui e gostei do pessoal. Antes de vir a Brasília, já participava do movimento sindical do ABC paulista. Fui conhecendo as pessoas, a Juliana Pacheco (uma pioneira da luta antimanicomial) foi uma das primeiras, vi que era uma forma totalmente diferente de tratamento e eles seguiam uma linha sindical.
Antes de sair do quadro de depressão, decidi fazer História. No final do curso escolhi fazer o TCC sobre saúde mental no DF. O pessoal da Inverso me ajudou e a partir daí, virei uma ativista da Inverso. Na eleição seguinte da diretoria, fui escolhida para ser da diretoria e estou aqui até hoje. Isso foi há 16 anos.
Com funciona a diretoria da Inverso?
Nós temos uma diretoria colegiada, as decisões são tomadas em conjunto. Recentemente houve uma mudança no estatuto, que era muito antigo. Nós trabalhamos muito também com apoiadores, amigos, familiares. A ideia é aumentar o número de participantes nas decisões da diretoria. Financeiramente a gente está tendo problemas.
Eu queria falar das oficinas da Inverso, já teve muitas aqui. Eu dava oficina de artesanato. Nós já tivemos uma banca de artesanato na Torre. Hoje ela está fechada e continua sendo nossa, mas não tinha ninguém para ficar lá. Nós já tivemos oficina todos os dias, música, artesanato, culinária, teve curso de acompanhamento terapêutico. O Tiago Petra era o responsável na universidade. Tinha muitos estagiários aqui. Inclusive estamos pensando em voltar a fazer serviço social em convenio com as universidades e os estagiários.
A gente teve dois baques: a Eva não quis mais ficar à frente da Inverso e disse “vocês assumem” e o segundo foi a pandemia. Só agora estamos voltando. Nós vamos reestruturar tudo novamente.
E a saúde mental no DF hoje, qual sua avaliação?
Está precisando de uma restruturação geral, principalmente nos Caps e o mais importante não é tratar a doença e sim a saúde e ao tratar da saúde não é só quem está com sofrimento psíquico, é tratar as famílias, Hoje eu vejo muito os Caps tratarem da doença, isso não tira o doente do sofrimento psíquico, acho que isso é só paliativo. Nós tínhamos pacientes aqui na Inverso que não saiam da internação. Com o tratamento na Inverso, muitos não voltaram a ser internados.
Com isso, nós entendemos que o lugar do paciente não é no hospital, todos tem o potencial de viver no lugar que ele quiser e ele mesmo se cuidar. Tanto os Caps como a Inverso têm gente muito bem-preparada pra dar esse apoio. O que precisa é o governo dar apoio a esses profissionais porque capacitados eles são. As comunidades terapêuticas não têm respostas eficientes no tratamento. Tem que chamar os profissionais da saúde e governo para discutir isso.
Você tratar de uma dor física é uma coisa. Já a doença mental é uma coisa muito complexa.
Quem quiser ser amigo da Inverso vai descobrir como tem gente de talento lá dentro, talento pra música, pra escrever, para artesanato e isso veio despertar aqui. Tinha frequentador que quando chegou não sabia fazer nem um café, e desenvolveu muitas habilidades e hoje moram sozinhas. A ideia da Inverso é colocar os frequentadores para tocar a vida deles. Se tiver muito necessidade, fica aqui, ganha mais autonomia vai morar sozinho.
Por isso eu digo, não é cuidar da doença, é cuidar da saúde.