Por: Wladimir Safatli – OutrasPalavras – Saber psiquiátrico e sua profusão de diagnósticos patologizam todas as formas de mal estar. Ao fazê-lo, tentam calar as insubmissões à subjetividade neoliberal. Não seria ela a grande adoecedora da sociedade? Quais as brechas para contestá-la?
Há quase dez anos, começamos a desenvolver na Universidade de São Paulo a pesquisa que resultou no livro Neoliberalismo como gestão do sofrimento psíquico. Tal pesquisa foi feita pelo Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise (Latesfip/USP), que congrega professores e pesquisadores do Departamento de Filosofia e do Instituto de Psicologia da nossa universidade. Durante os piores momentos da universidade pública brasileira, lutamos para levar a cabo essa pesquisa como forma de começar a analisar as mutações pelas quais os sujeitos estavam a passar no interior da nova ordem econômica com suas estruturas próprias de brutalização social e violência.
Tal pesquisa sobre o neoliberalismo e as formas contemporâneas do sofrimento psíquico era o primeiro passo para tirar as consequências de uma questão epistemológica que nos parecia central, a saber: o que, afinal, é uma categoria clínica? Que tipo de entidade são categorias como “transtorno de personalidade histriônica”, “neurose obsessiva”, “esquizofrenia”, “transtorno de ansiedade”, entre tantas outras? Seriam tais categorias a expressão de espécies naturais descobertas pelo desenvolvimento técnico do saber médico?
Leia a matéria completa 11/12/2024