“A psicose me fez professora de mim”

Por: Usuária de CAPS – Publicado em Esquerda Online – Bom, como começar esse texto? É que eu queria dar meu relato como usuária de CAPS já de há quase uma década, psicótica de nascença. E eu queria vir aqui em defesa dos meus coleguinhas de psicose, esquizofrenia, porque eu acho que existe um grande desentendimento em relação à nossa turma. 

Vejam bem, o que a psiquiatria chama de “psicose” pode ser experimentada por todas as pessoas, o famoso “de louco todo mundo tem um pouco”. Quando os neuróticos vivem a psicose (às vezes, mesmo os psicóticos) dizem que perderam o contato com a realidade, ou que ficaram sem crítica. Quem sou eu para duvidar de vocês? Eu não tô nos seus corpos. 

Mas é por isso mesmo que eu queria esclarecer a covardia que nos acontece. Vejam, vocês descrevem o que, supostamente, nós sentimos pros outros e ignoram o que nós temos a dizer sobre nós mesmos. Entenda: não tem quantidade no mundo de antipsicóticos que vai fazer nós esquizofrênicos pararmos de acreditar em Deus, alienígenas, entidades ou seja lá no que acreditamos. A psicose para o psicótico é seu jeito de ser, é sua condição de existência e sobrevivência. Não me esqueço de um amigo que me disse que o que evitou que ele se suicidase foi a voz de Deus que ele ouviu nitidamente em seu corpo. Eu que não compartilho da mesma religião dele, claro que não entendo. Também não cobro que as pessoas entendam o porquê eu me furo, toda a semana, para oferecer meu sangue para entidades superiores. O que quero dizer é: e se ele não tivesse ouvido Deus, o que seria dele? E eu se não pudesse oferecer meu sangue, continuaria a ser consumida por uma grande inquietação. É que pro psicótico a psicose não é erro, é saída. É o único jeito de ver e interpretar o mundo.

Leia a matéria completa – 27/05/2024

Compartilhe:

Celio Calmon

Autor & Blogger

Veja também:

  • All Post
  • 5ª Conferência Nacional de Saúde Mental
  • A História da Loucura
  • A Reforma Psiquiátrica
  • Álcool e Drogas
  • Ansiedade e Depressão
  • Arte e Loucura
  • Blocos de Carnaval
  • Comunidades Terapêuticas
  • Entrevistas
  • Hospitais Psiquiátricos
  • Indústria da Loucura e Medicalização da Vida
  • Iniciativas Parlamentares
  • Luta Antimanicomial
  • Manicômio Judiciário
  • Personalidades da Luta Antimanicomial
  • Políticas Públicas de Saúde Mental
  • População em situação de rua
  • Psicofobia e Estigmatização
  • Saúde Mental
  • Sem Categoria
  • Transtornos Mentais
  • Vídeos

Deixe um comentário:

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Sobre o Observatório da Reforma Psiquiátrica

Direito à loucura

O “Observatório da Reforma Psiquiátrica” é um site de notícias que divulga informações publicadas em diversos veículos de comunicação e nas redes sociais sobre reforma psiquiátrica e saúde mental. O Observatório está aberto à participação de todos que defendem a luta por uma sociedade sem manicômios e por tratamentos humanizados e em liberdade para pessoas em sofrimento mental.

Newsletter

FIQUE POR DENTRO

Receba novidades por e-mail

Últimos posts

  • All Post
  • 5ª Conferência Nacional de Saúde Mental
  • A História da Loucura
  • A Reforma Psiquiátrica
  • Álcool e Drogas
  • Ansiedade e Depressão
  • Arte e Loucura
  • Blocos de Carnaval
  • Comunidades Terapêuticas
  • Entrevistas
  • Hospitais Psiquiátricos
  • Indústria da Loucura e Medicalização da Vida
  • Iniciativas Parlamentares
  • Luta Antimanicomial
  • Manicômio Judiciário
  • Personalidades da Luta Antimanicomial
  • Políticas Públicas de Saúde Mental
  • População em situação de rua
  • Psicofobia e Estigmatização
  • Saúde Mental
  • Sem Categoria
  • Transtornos Mentais
  • Vídeos

31 de outubro, 2024

Instagram

Temas

Edit Template

© 2023 Observatório da Reforma Psiquiátrica  | Admin
Website por LP21