Entrevista com Elias Lima Batista, usuário da Rede de Apoio Psicossocial (RAPS) e militante da luta antimanicomial

Você foi internado por um tempo no HPAP, Hospital de Pronto Atendimento Psiquiátrico. Como foi sua experiência lá ?

Não é bom não, mano, aquele lugar não é nada agradável, tem muito desrespeito, como se você fosse um monstro. Depois do nascimento, eu vim pra casa e com 4 anos perdi minha mãe e fiquei com meu pai. A minha criação com meu pai não foi muito agradável não. Ele tem outra mulher, ela foi embora porque não aguentou. Eu falei umas verdades e ela não suportou.

Quando eu tive uma crise, meu pai não se preocupou, mas pra ela eu era um problema dentro de casa e por isso, ela mandou meu pai me mandar embora. Eu tinha uns 16 anos.

Eu tive uma crise convulsiva e fui expulso da minha casa que era da minha mãe, não é uma piada? Eu saí de casa porque eu não aguentava o meu pai, ele me tratava muito mal, nunca me tratou como se fosse filho Por isso, eu não falo com ele, não dou muita moral pra ele porque ele era uma pessoa desrespeitosa. Eu saí de casa e fui ajudado por uma pessoa, fui morar com ele na Ceilândia Norte, ele construiu um quarto com banheiro pra eu ficar morando.

As minhas crises são convulsivas. Na hora da crise eu não vejo nada, fui procurar um tratamento e encontrei uma assistente social, exatamente num hospital psiquiátrico, que não era um lugar agradável. A Anunciação que conseguiu meu benefício pra eu não precisar trabalhar com muita frequência, porque eu ainda cato latinha. Pra trabalhar num emprego, eu não vou, prefiro trabalhar pra mim mesmo. Ela conseguiu o benefício “De volta para a casa”. Eu fui foi internado no hospital psiquiátrico várias vezes. Teve uma vez que tomei uma injeção e fiquei 3 dias dormindo.

Como você conheceu o coletivo Inverso?

Eu conheci a Inverso por meio da TV Sã, que foi criada para o pessoal da área de saúde mental. Quando esse projeto foi criado, a Tania Inessa foi no hospital psiquiátrico pra procurar pessoas que queriam participar do projeto. No início, eu era um quase ninguém no projeto, mas aí foi passando e fui adquirindo conhecimentos.

Temos vídeos nossos na TV Pinel. Ela veio ensinar a gente como fazer esses vídeos que foram gravados na rodoviária e no Setor Comercial Sul. Fizemos um vídeo com a Tania no UniCeub e eu fiquei meio triste naquele local. Eu falei coisas que não gostaram, quando eu falo, não tenho meias palavras, para os governantes.  A cidade satélite não existe.

Eu reclamei com os governantes que eles dividiram a Ceilândia ao meio pra não fazer nenhum Caps. Lá só tem Caps AD e era apenas uma sala em um posto de saúde. Depois ele cresceu e virou um Caps AD. O pessoal que tem transtorno fica jogado, tenho que ir para o Caps de Taguatinga e Samambaia. Muitas vezes eles vão pra um lugar mais longínquo ainda, que é o Instituto de Saúde Mental, atrás do Riacho Fundo 1.

O que a TV Sã representou pra você? ***

 Ela me fez ter mais vontade de ir pra espaços que não tem aprisionamento, foi de 2009 até 2015. Eu ia toda semana, nas reuniões da Inverso, como eu tinha um pouco mais de conhecimento porque eles pensam por que eu tenho doença mental eu não tenho conhecimento algum, sempre esse negócio de preconceito. Eu fiz oficina com a Sara, com o Antônio.

Atualmente eu tô procurando um neurologista pra ver como está meu estado, meu diagnóstico é neurológico, ele não é psiquiátrico. Hoje eu não vou mais em hospital psiquiátrico, só nos Caps.

**** Elias recebeu o Prêmio Inclusão Social pela Arte, Cultura e Trabalho do Conselho Federal de Psicologia em 2016, na categoria de vídeo. O trabalho premiado foi feito para a TV Sã.

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Celio Calmon

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