“Fotografando o Invisível: A Terapia da Arte”

“Histórias de Vida, Superação e Cura Através da Fotografia e da Arte Terapêutica” .
Entrevista com Jean Paulo Marques de Souza, 49 anos, brasiliense, fotógrafo e fototerapeuta. Jean narra a experiência comovente do tratamento do seu autismo no Instituto de Saúde Mental de Brasília.

Gosto de fotografia desde criança, mas eu comecei na fotografia em 96, com a fotografia analógica e depois veio a digital. Mas sempre gostei de fotografar a natureza, fotografar pessoas e sempre com um olhar bem detalhista, bem sensível. E aí comecei a ter essa paixão pela fotografia. Com o tempo, comecei a publicar algumas fotos e trabalhar na faculdade Anhanguera como técnico de laboratório de comunicação. Era para trabalhar com fotografia, cinegrafista, rádio e edição de vídeo.

Sempre com fotografia?

Sempre com fotografia. E aí, com o tempo, eu tive umas crises, que levou a me afastar definitivamente do trabalho, por causa das crises e tentativas de suicídio. Desde pequeno eu tenho essas tentativas de suicídio. Na vida adulta, tentei várias vezes e sempre uma coisa que me ajudava muito era o hiperfoco na fotografia. Quando eu saía para fotografar, eram momentos que traziam paz, tranquilidade. Era muito bom, porque isso me ajudava muito e aí foi onde eu comecei com a fotografia. Participei de alguns negócios e estou até hoje.

Hoje eu estou lá no Instituto (Instituto de Saúde Mental) desde 2018 ou 2019 fazendo tratamento. Aí descobri o espectro autista.

Você não sabia que tinha esse espectro autista?

O médico falou que eu tinha desde criança. Só que nunca tive esse diagnóstico. O médico falou que essas crises eram desde a criança. Ele fez várias avaliações e aí comecei o tratamento. Comecei o tratamento da esquizofrenia e de ouvidor de vozes.

Você ouvia vozes também?

Ouço vozes. Comecei a fazer o tratamento lá no Instituto e aí o doutor Ricardo (Lins) descobriu que eu fotografava. Ele falou: “Que tal fazer umas fotografias aqui no CAPS?” Foi onde eu comecei a fotografar as pequenas plantas e postar e as pessoas começaram a gostar. Foi indo e aí surgiu a terapia fotográfica.

 Como é que é a terapia fotográfica?

A terapia fotográfica é uma forma de lidar com a depressão, com a ansiedade, com os pensamentos negativos, com a ideação suicida. Eu fotografo e conto uma história através da fotografia. Cada fotografia é registrada e depois eu sento e começo a contar a história através daquela fotografia, como é que eu estava naquele momento.  Tem até a história de uma formiga. Eu pedi pra ela, “formiga, eu poderia te fotografar, mas só que eu precisava que você fizesse uma pose pra mim” e ela se sentou. Na hora que ela sentou eu fotografei.

Quando contei essa história pro pessoal do CAPs (Instituto de Saúde Mental), o pessoal ficou impressionado, é uma das fotos que conta o momento de crise, de luta. Naquele momento, eu estava passando por uma crise muito forte e naquele momento que fotografei me trouxe uma calma, uma tranquilidade. Toda vez que eu estou em crise, eu fotografo as pequenas plantas, começo a registrar. Isso já me tirou de várias tentativas de suicídio. Contando essa história, várias pessoas começaram a fazer a terapia fotográfica.

Elas começaram a registrar e contar a história daquele momento, o que ela estava sentindo. Teve um dia interessante que eu estava vindo do Riacho Fundo para o plano piloto. Eu comecei a conversar com motorista do Uber. Ele viu a máquina fotográfica e perguntou, “Você é fotógrafo?”. Eu falei, “eu faço terapia fotográfica”. Ele ficou interessado e falou, “como é que é isso?” Eu falei, você pode fazer a terapia fotográfica quando você estiver estressado, agitado. Vai lá, pega o seu celular, fotografa uma plantinha. E aí naquela plantinha você escreve o que você estava sentindo naquele momento. Depois você escreve como você está e como é que você passou, se você ficou bem quando você registrou.  Ele achou tão interessante que falou que ia fazer isso.

Eu incentivo várias pessoas a fazerem a terapia fotográfica. Lá no CAPS, tem um projeto que eu apresentei pra gerência pra começar a terapia fotográfica lá, acho que vai ser o ano que vem.

A terapia vai ser para os pacientes do Instituto?

Não só para os usuários, mas para a comunidade, para trazer essa sensibilidade através da fotografia e isso tem trazido paz e harmonia e tem feito uma diferença muito grande.

 A arte de uma maneira geral é terapêutica.  A Doutora Nise da Silveira tratava os pacientes psiquiátricos com desenho, pintura, acho que até fotografia também. O autista, como você, tem uma percepção pra detalhes, não é?

Quando eu estou focando, eu vejo uma pequena planta. É o hiperfoco. O autista consegue capturar assim com um olhar, o que muitas outras pessoas não conseguem ver. Eu consigo, assim, capturar as imagens e mostrar a sensibilidade daquele momento, daquele exato momento. Então, assim, o espectro autista tem essa sensibilidade e isso que faz uma diferença muito grande. O autista quando está parado no lugar, a primeira coisa que ele faz é observar tudo.

Já vi tudo aqui onde estamos, vi as plantas, é cheio de detalhes mesmo, cheio de coisas, assim, é o hiperfoco da fotografia. Nesses dias, eu estava fotografando um momento lá no CAPS, Hábitos de Vida Saudáveis. É uma atividade, acho que é a cada 15 dias e aí ele pediu pra eu fotografar. Quando fotografei, mandei pra ele, que mandou uma mensagem” Jean, você consegue capturar a emoção”. Aquilo me deixou feliz porque, eu consegui mostrar através da fotografia aquele momento. Então, o autista é isso. Ele tem um olhar bem apurado, bem sensível e ele consegue registrar esses momentos que marcam.

Quando eu fotografo não quero ver a foto na hora, quero ver depois, para sentir aquela sensação de antigamente para reviver aquele momento. Para ver como é que saiu depois e algumas fotos eu edito, só dou um leve tom no Photoshop e uso o Lightroom. Muitas vezes eu nem edito, eu já gosto e coloco no site para ver todo dia, no site mesmo.

Eu tive a oportunidade fazer um ensaio com o Romário. Fiz uma foto dele num evento, ele gostou e a equipe dele me ligou. Eu estava trabalhando na Faculdade JK e aí eles falaram, “Jean, eu queria que você fizesse um ensaio fotográfico dele, ele vai fazer um documentário e ele precisava de umas fotos”. Eu falei, tá bom. Ele foi no Guará, falei com o pessoal da faculdade e disse que eu ia fotografar o Romário lá. Aí eles perguntaram: “Quem? Romário?” Quando ele chegou viram que era verdade, aí fizeram toda a estrutura para receber ele. Eu guardo essas fotos até hoje.

Na exposição “Encontro das Artes, eu consegui fazer umas fotos com uma sensibilidade muito forte, eu fui registrando tudinho, porque isso me ajuda, é uma terapia.

O meu objetivo não é ganhar dinheiro. Eu gosto do que faço, vai me trazendo paz, tranquilidade. Eu também tive a oportunidade de fotografar o Ziraldo. Ele veio a Brasília e eu o fotografei no aniversário dele, acho que foi o último aniversário, já com bastante idade. Guardo isso com o maior carinho.

Vamos falar sobre o Instituto de Saúde Mental e sua experiência no tratamento do autismo.

Eu cheguei no Instituto com uma carta de despedida.

Uma carta de despedida?

Eu escrevi uma carta pra minha família falando que eu amava eles e que não ficassem tristes. Eu cheguei com a carta lá no Instituto e eu tinha uma corda dentro da mochila.

Tinha uma corda?

Eu cheguei lá chorando e uma pessoa, a servidora Joana me atendeu. Falei tudo e mostrei a carta pra ela. Ela tomou um susto. Depois disso, ela me encaminhou para o médico, que é o meu médico hoje, o Dr. Ricardo. Ele sempre me incentiva, sempre me dá força para não desistir. Várias vezes eu cheguei em crise lá, ele me atendeu e os servidores, com o maior carinho, com o maior amor me acolheram

Você chegou lá sem conhecer ninguém?

Com o tempo conheci a Cassia, a Angélica, fui conhecendo todo mundo. Aí eu comecei a fotografar todos os eventos de lá, Começaram a fazer esse trabalho comigo de acolhimento, sempre me incentivando. Eu cheguei com uma corda. Na época, as vozes pediam para eu comprar corda, eu comprava. As vozes pediam e eu me cortava todo. Toda vez que eu tinha crise, a primeira coisa que eu fazia era ir para o Instituto e eles me acolhiam, trabalhavam comigo, me apoiavam. A Rose sempre me apoiava também.

Sempre tive suporte e por isso sou muito grato, porque a equipe sempre me apoia, sempre me ajuda nos momentos mais difíceis. Para mim, é um local onde tenho o maior carinho. Toda vez que eu vou para lá, eu me sinto em casa. Eu sempre ando com a minha câmera.

Você participou das oficinas do Instituto?

Fiz a oficina de cacoterapia com a Cassia. Ah, fiz tudo, automassagem com a Angélica. Participei de quase todas as oficinas. Eu moro perto do Instituto. Não conhecia em detalhe o funcionamento do Instituto, mas eu comecei a me interessar.

Vídeo Cacoterapia

Você tem alguma lembrança mais forte, assim, da época do Instituto? Algum momento mais significativo que você viveu lá?

Em um desses momentos de crise, dei uma sumida do Instituto e o pessoal foi lá em casa. Perguntaram como é que eu estava. Teve uma vez que eu deixei de tomar a injeção e eles foram lá em casa. Então, o Instituto é assim, se a gente der uma sumida, eles vão atrás, eles procuram saber como é que a gente está.

Hoje o Instituto é dividido em 3 equipes, rosa, azul e amarelo. Eu sou da equipe azul, que é a do doutor Ricardo Lins. Quando eu chego lá, eles me dão bom dia, Jean, como é que você está? Então isso me marcou muito. Eu fiz até uma carta de agradecimento e uma música.

Uma coisa me marcou muito.  Foi um dia que eu estava em crise, chorando muito. O Índio chegou com uma cigarra no chapéu e me chamou. “Jean, fotografa aqui”. Então, eu fotografei a cigarra e naquele momento, eu saí da crise. Olha, isso me marcou muito, esse cuidado que eles têm, tanto os usuários como os servidores.

Você foi atendido em outros lugares antes do Instituto. Como é que foi a sua experiência?

Eu estive em várias clínicas. O primeiro médico que me atendeu foi bem rápido. Aí, já fiquei meio assim. Fui pra outra clínica. O médico me atendeu e comecei a ser acompanhado por ele. Foi ele que me diagnosticou com esquizofrenia. O meu plano de saúde deu problema, aí tive que ir pra outra clínica. Passei na mão de cinco psiquiatras, foi quando fui pra o Instituto de Saúde Mental.

Jean, ainda existe muito preconceito com a pessoa que sofre com transtorno mental, que ela é perigosa. Como é que você vê essa questão do preconceito?

Muitos amigos meus se afastaram de mim e tive que lidar com isso. Tenho três amigos e posso contar com eles. Mas, assim, o preconceito é muito grande. Alguns motoristas de Uber, quando vão me buscar lá no Instituto, falam “Tem muito doidinho aí”? Aí eu falo, “você está falando com um”. Aí o cara fica assustado, fica sem graça e tenta mudar de assunto, mas ele já falou. Falo para eles para romper com esse preconceito, e hoje eu combato o preconceito através da música, através da fotografia, através da escrita. Antigamente eu tinha preocupação de falar para as pessoas, hoje não, hoje eu já falo abertamente.

Eu tinha vergonha do que que as pessoas iam pensar de mim, do que elas iam falar de mim. Hoje em dia, não. Eu participo de algumas ONGs e eles não sabiam o que acontecia comigo. Fiz um vídeo falando da minha história https://www.youtube.com/watch?v=yoAnBnKgD8U e quando eles ficam sabendo, todo mundo me recebe.

Eu comecei a quebrar os paradigmas e esse vídeo ajudou que outras pessoas perdessem o medo. Hoje eu já não tenho mais medo de falar para as pessoas quem sou eu. Eu falo para as pessoas, olha, eu sou o Jean Marques. Eu tenho isso. Então, eu estou aqui, sou carinhoso, eu gosto de ajudar as pessoas, eu gosto de incentivar as pessoas. Hoje em dia eu faço vários cursos. Cheguei no oitavo semestre do curso de jornalismo. No momento, estou fazendo gestão de marketing. Mandei meu laudo para a faculdade porque eu precisava de ajuda do NAP, Núcleo de Atendimento Psicopedagógico. Mandei a mensagem para o coordenador e foi parar no reitor. Aí o reitor mandou a pessoa responsável me ligar e me ligou à noite. “Ah, eu sou a pessoa responsável pelo NAP, eu estou aqui para te ajudar a pedido do reitor” Aí me respeitaram, quebrando todo o preconceito.

Hoje sou facilitador de um grupo de ouvidores de vozes, ajudo pessoas. Então, isso tem me ajudado bastante a quebrar todas as barreiras e incentivar as pessoas a continuarem lutando. Não desistir, não desistir jamais.

Você ainda tem crises?

Tenho.

Toma alguma medicação pra controlar as crises?

Tomo medicação, tomo injeção. Haldol, (Haldol) Haldol Decanoato. Também tomo um comprimido, tomo risperidona e um outro lá que tem me ajudado. Eu tive uma crise de ansiedade muito forte e aí, eu fui parar na emergência de um hospital. Aí cheguei lá, o médico passou um medicamento que me tranquilizou e fui pra casa. No outro dia eu fui para o Instituto.

Então a medicação que você toma não controla totalmente a crise?

Diminui a intensidade. Toda vez que tenho crise, a primeira coisa que eu faço é ir pra o Instituto. Sou bem transparente com o meu médico, com a equipe. Eu falo o que está acontecendo. Não escondo nada e isso porque sei que eles vão me ajudar da melhor forma, Quando estou em crise, a primeira coisa que faço é mandar uma mensagem, é escrever.  escrevo tudo, que acontece comigo e isso tem me ajudado bastante porque é importante compartilhar com as pessoas. A primeira vez que eu compartilhei o meu blog, vi que eu quebrei o preconceito porque eu divulguei aquilo que antes era só meu.

Aqui em Brasília tem um número insuficiente de Caps.

Isso é muito preocupante porque sobrecarrega os CAPs atuais. Muita gente hoje em dia está precisando de apoio, de ajuda e muitos têm medo de se expor. Muitos sofrem sozinhos, como eu. Sofri dos meus 12 anos aos 40 anos.

Sua família não apoiava você?

A minha família é da roça, não tinha esse conhecimento. Eu sofria sozinho em casa, sofria sozinho na escola. Só procurei ajuda com 40 anos de idade. Foi onde eu procurei ajuda pedindo socorro. Passeio por vários médicos, até chegar no Instituto. Primeiro, a família tem essa coisa de negação, eles dizem, ah, isso não é nada, isso vai passar e não atenta pra o nosso sofrimento.  Eu era muito calado, não falava nada pra ninguém. Tudo que acontecia comigo, ficava preso dentro de mim.

Depois de 40 anos me abri com a psicóloga Juliana e comecei a escrever sobre isso. Eu tenho vários textos falando disso e até fiz uma música, “Preciso de socorro”.  Hoje que me acompanha e a psicóloga Thais do Caps.

“No Clique da Alma” contando a minha própria história. Falo sobre como a fotografia se tornou uma forma de enxergar o mundo de um jeito mais profundo e verdadeiro. Desde criança, enfrentei desafios, mas foi por meio da fotografia que encontrei meu foco e um caminho para lidar com minhas emoções.

Cada clique meu é um desabafo, mas também um abraço, uma maneira de me reconstruir. Eu respeito e valorizo cada detalhe da natureza, como uma formiga ou uma planta, porque tudo tem uma história para contar.

Mesmo ouvindo vozes do autismo e outras patologias e enfrentando preconceitos, mostro através da minha arte que sou muito mais do que qualquer rótulo. Eu sou luz, sou cor, sou vida.

Levo a minha visão da saúde nental para o mundo, e cada foto que faço carrega minha força e minha missão. Meu nome é Jean Marques, e a minha arte é a minha superação. Sou a minha própria canção.

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Celio Calmon

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