Entrevista com Carla Freitas – Gerente do CAPSad Candango – Setor Comercial Sul – Brasília

Como funciona o CAPSad e que público vocês atendem?

O CAPSad é um serviço que compõe a Rede de Atenção Psicossocial, ele é um serviço do SUS estratégico do campo da atenção psicossocial para as pessoas com problemas com álcool e drogas. Esse CAPSad é um serviço que atende toda a Região de Saúde Central. Nessa região, nós temos o CAPS geral, que é o CAPS II Brasília, na Asa Norte e o CAPSi, que é o CAPS infanto juvenil, também localizado na asa Norte.

O CAPSad atende adultos e adolescentes a partir de 16 anos de idade quando há demanda relacionada ao uso problemático de álcool e drogas. Antes dos 16 anos é acompanhado pelo CAPSi.

O CAPSad é um serviço de portas abertas para o primeiro acolhimento, ou seja, não é necessário agendamento e/ou encaminhamento para iniciar o tratamento ou retornar para o acompanhamento.

Temos também a perspectiva da agenda aberta para atenção diária, situação de crise, intercorrências e também os agendamentos programados, conforme Plano Terapêutico Singular.

As oficinas e os grupos terapêuticos são espaços de convivência e têm a perspectiva de ser um espaço aberto para os frequentadores do CAPSad Candango.

Há 12 leitos para desintoxicação e outras demandas psicossociais, como intervenção em crise, proteção e outras necessidades, que pode ser uma estratégia de cuidado e atenção em dado momento do tratamento do sujeito. Nesse momento, a pessoa fica no CAPS em cuidados intensivos por até 14 dias. 

São quantos CAPS no DF?

No DF são 18 CAPS, sendo 8 CAPSad e destes 3 CAPSad III, de atenção 24 horas com leitos para desintoxicação e outras demandas psicossociais; 3 CAPS infanto juvenil, 01 CAPS I e 6 CAPS adulto. O número de CAPS atualmente é pouco considerando a população do DF.

Vocês têm dados sobre a média de atendimentos por mês?

Em 2023 o CAPSad Candango teve uma produção de 44.557 procedimentos, uma média de 3 a 4 mil procedimentos por mês. Os procedimentos são padronizados pelo Ministério da Saúde, tais como, atendimentos individuais e coletivos, atividade no território, com as famílias, intervenção em crise, ações de redução de danos, atividades externas como passeios e eventos, articulação de rede e outros.

No caso de pessoas que precisam de internação mais prolongada, como vocês fazem?

As estratégias de cuidados numa perspectiva ampliada envolvem a Rede de Atenção Psicossocial, outros pontos de atenção do SUS e a Rede Intersetorial.

Nessa perspectiva, as situações de maior gravidade devem ser direcionadas para os leitos dos hospitais gerais. No entanto, as internações não devem ser prolongadas.

Os hospitais gerais devem ser a retaguarda na Rede para situações de crise mais agravadas, em os CAPS avaliam situação de risco que requer a intervenção de outros pontos da rede de atenção.

Qual a maior demanda de atendimento que vocês recebem?

A clínica em saúde mental, álcool e drogas é muito complexa e traz um conjunto de necessidades relacionadas à vida humana que surgem ao longo do acompanhamento das pessoas.

Por exemplo, há uma grande demanda relacionada aos benefícios socioassistenciais e uma outra demanda relacionada aos transtornos mentais graves, somado ao uso de álcool e outras drogas.

O crescimento da desigualdade social aumenta a demanda em saúde pública e nesse contexto há um incremento significativo das demandas relacionadas à álcool e outras drogas.

Vocês têm alguns dados que indiquem o retorno dos pacientes, recaídas etc.?

O CAPS atende atualmente cerca de 1.104 pessoas, destas 57,5% estão em situação de rua.

Consideramos que o acompanhamento no campo da atenção psicossocial acontece de forma longitudinal e por vezes não é linear. Há momentos em que a pessoa precisa estar mais no CAPSad, para cuidado mais intensivo e há momentos em é possível o cuidado em outros pontos de atenção da rede, de menor complexidade.

Avaliamos que há no CAPSad Candango um número significativo de reacolhimento, quando a pessoa retorna ao tratamento.

Considerando ainda o perfil da população que frequenta este CAPSad, verifica-se que muitos circulam por outras regiões de saúde do DF e também por outros estados e municípios.

Houve uma polêmica recente que acusaram o CAPS de não permitir que as pessoas em situação de rua a usassem o banheiro da instituição. O que aconteceu?

Essa questão do uso do banheiro reflete a ausência de espaços públicos destinado a população, inclusive banheiros e bebedouros. O CAPSad Candango não tem estrutura pra atender toda a população que frequenta o Setor Comercial. Não há como essa instituição garantir banheiro e água para todos, como por exemplo, comerciantes informais, trabalhadores da construção civil, pessoas que vivem e circulam no Setor. Quando o CAPS de alguma forma tenta atender essa demanda externa, deixa de garantir o bom funcionamento da unidade de saúde mental para aqueles que frequentam as atividades e os atendimentos do CAPSad diariamente.

Por isso, muitas vezes orientamos o uso do banheiro público localizado no Setor Comercial Sul, próximo ao CAPS.

Como é a relação de vocês com os representantes das comunidades terapêuticas que vêm pra essa região chamar pessoas em situação de rua pra serem encaminhados para as comunidades?

Não há obrigatoriedade de encaminhamento dos CAPS para as Comunidades Terapêuticas. Existe essa demanda de buscar o CAPS para essa finalidade e existe a autonomia do profissional de saúde que na sua avaliação vai direcionar e orientar o tratamento.

Vocês fazem trabalhos terapêuticos aqui no CAPS com grupos?

O CAPS atua com a perspectiva do coletivo, então os grupos e oficinas terapêuticas e de convivência são extremamente importantes e valorosos para nós.

Aqui no CAPS tem grupo de práticas integrativas como meditação e redução do estresse, grupo de psicoterapia, oficinas que envolvem autocuidado, cultivo de plantas, cidadania, jogos, atividade no território, etc.

Qual o caminho para uma pessoa precisa de atendimento, aqui no CAPS?

O acolhimento inicial, que é o primeiro atendimento, assim como o retorno ao tratamento, acontece todos os dias, sem a necessidade de agendamento prévio.

O CAPSad Candango trabalha na perspectiva de reduzir cada vez mais as barreiras de acesso, dessa maneira tanto os atendimentos com o profissional de referência e atendimentos de acompanhamento e orientação, quanto os grupos e oficinas terapêuticas acontecem na lógica da agenda aberta de forma a garantir o acesso, a escuta qualificada e a atenção à demanda.

Os atendimentos programados, conforme Plano Terapêutico Singular, têm um agendamento prévio.

O CAPS recebe recursos federais para funcionar, mas a responsabilidade pela administração é da secretaria de saúde do DF?

Os CAPS são dispositivos que compõe a RAPS, uma das redes de atenção do SUS e há um repasse de recursos para os serviços habilitados pelo Ministério da Saúde.

Os municípios e, no nosso caso, o Distrito Federal, através da SES, são responsáveis pela garantia do funcionamento dos CAPS.

É importante destacar as diretrizes da Reforma Psiquiátrica brasileira como norteadora das ações, bem como, a perspectiva de cuidado voltado para a construção da autonomia do sujeito e garantia do acesso à cidadania.

Reunião de grupo de pacientes no CAPSad.

Atendimento – CAPSad Candango.

Fachada do CAPSad Candango.

Visita de grupo do CAPSad a uma exposição de arte.

Visita de grupo do CAPSad a uma exposição de arte.

Visita de grupo do CAPSad a uma exposição de arte.

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Celio Calmon

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