Entrevista com Thereza Raquel Borges, psicóloga, e Coordenadora Executiva do Instituto Cultural e Social No Setor de Brasília

Como surgiu o Instituto Cultural Social no Setor?

A gente trabalha com pessoas em situação de rua desde a pandemia, em 2020, um ano após a criação do Instituto. A gente foi crescendo nesse sentido. Só que a gente trabalhava com voluntários, que não eram pessoas especificamente capacitadas pra esse trabalho e isso era um entrave bem grande. Quando passou a pandemia e abriu tudo, as pessoas não tinham mais tempo pra trabalhar com a gente. Nós aumentamos o número de estágios e só estávamos trabalhando eu e a Bruna, que era uma pessoa em situação de rua e trabalhava como mobilizadora social.

Agora a gente conseguiu uma parceria com a Fiocruz. Temos agora dois técnicos trabalhando conosco e um oficineiro, e a Bruninha que está inserida nesse projeto. A nossa intenção é trabalhar principalmente com as pessoas em situação de rua do Setor Comercial Sul (SCS), que não ainda não está diretamente vinculado com algum serviço, não quer se vincular ao CAPS ou ao Centro Pop. Eles recebem os benefícios desses órgãos, mas não estão vinculados de fato a eles. Agora estamos estruturando o projeto, vamos fazer algumas oficinas, articular políticas públicas, e promover convivência social e educação popular.

O Instituto surgiu a partir de um coletivo que tinham a intenção de ocupar culturalmente o SCS, porque desde a criação do SCS, ele vem sendo esvaziado, talvez por conta do comércio que passou a funcionar nos shoppings, ou pela dificuldade com estacionamento. Mas esse espaço sempre foi uma referência para recebimento de doações pela população em situação de rua. Tem várias ações que acontecem aqui nesse território, não é só a gente que trabalha aqui. Tem as igrejas, tem as Comunidades Terapêuticas, a “Salve a Si” que vinha aqui toda quinta-feira.

O Rogério Barba vem sempre aqui, não é?

Isso, o Barba foi o primeiro diretor social do Instituto, ele estava sempre aqui no território, os meninos que compunham o setor eram de diferentes áreas de formação. Eram de turismo, de administração, mas ninguém que tivesse trabalhado antes com pessoas em situação de rua. O Barba era uma pessoa de referência, conhecia todo mundo daqui do território.  Ele participou da reabertura do banheiro. Depois os fundadores criaram o Futebol “Golzinho” que juntava o pessoal pra jogar sexta à noite e contratavam pessoas pra trabalhar nos eventos aqui no Setor Comercial Sul.

Foi durante a  pandemia que o serviço se intensificou. Os fundadores do Instituto perceberam as dificuldades da rua e começaram a pedir que as pessoas ajudassem. Nós conseguimos umas 250 pessoas para se voluntariar. Tivemos que selecionar as pessoas com um cadastro de voluntários. Eu vim na primeira leva. Eu tinha acabado de vir um doutorado sanduíche frustrado na Espanha. Voltei pra o Brasil e decidi ser voluntária como psicóloga.  Juntamos um grupo de psicólogas e os fundadores do instituto tinham ainda a perspectiva do Barba, que era levar as pessoas para as comunidades terapêuticas. Num primeiro momento, nós tentamos adequar isso inclusive porque muitas pessoas em situação de rua entendem as comunidades terapêuticas como lugar de salvação. Até a gente ver que estavam expondo a população em situação de rua demais nas redes sociais, não tinha um critério. A partir do momento que juntamos um grupo de psicólogos e começamos a repensar as práticas, inclusive a de levar as pessoas para as comunidades terapêuticas.

Eu já tinha trabalhado dentro do sistema socioeducativo, e em outros espaços com psicologia social, então eu tinha muita essa necessidade de que a gente tivesse espaços coletivos de fortalecimento de vínculos com as pessoas atendidas em situação de rua porque eu achava, e ainda acho que os espaços coletivos são fundamentais para mudanças coletivas, e foi uma coisa que eu trouxe pra o pessoal que trabalhava comigo. Além disso, a gente começou a fazer uma conexão com as políticas públicas buscando sempre articulá-las de qualifica-las ao invés de sobrepô-las. No começo, se uma pessoa precisava de um documento, nós levávamos para o serviço “Na Hora” (local público de tirar documentos oficiais) e resolvíamos tudo pra pessoa. Foi muito efetivo no começo, inclusive na criação de vínculos. Nessa época, a gente começou a se reorganizar porque na época a gente tinha um núcleo de saúde mental com os psicólogos e outro com pessoas que faziam esses contatos e encaminhamentos, levavam as pessoas pra tirar documentos, etc. A gente tinha um contato com uma pessoa do Centro Pop que ajudava a gente no processo de tirar documentos, tratar dos benefícios, só que não era nada formal.

Foi aí que a gente começou a compreender que a psicologia e a saúde mental eram uma coisa transversal a esse processo e aí a gente começou a andar todo mundo junto e fazer o que a gente chamava de escuta ativa e articulação de redes, principalmente com o Instituto Ipês. Na escuta ativa a gente ia pra o território, sentava junto, via como estava todo mundo. A gente organizava alguns momentos coletivos com lanches, a gente estendia uma canga no meio do SCS, e fazia uma roda de conversa. Nem sempre a gente conseguia que todo mundo participasse ao mesmo tempo, respeitando turnos de fala. Em geral era um com outro aqui, outro com outro ali.

A gente fazia também oficina de jogos, levava jogos pra jogarem com a gente. Tinha uma horta comunitária, que a gente fazia o manejo e população pegava um coentro, uma babosa.

As ações eram só aqui, na quadra 5 ou também em outras áreas do SCS?

A gente costumava cobrir todo o SCS desde a quadra 1 até a quadra 6, mas tem um movimento deles de juntarem aqui, na quadra 5. O que foi importante para facilitar o trabalho. Quando você estende um pano no chão e senta aqui no Setor Comercial, as pessoas vão chegando e havia uma troca bem legal. Só que com a saída da pandemia e o retorno do comércio, nós ficamos com problema para a manutenção do voluntariado, as pessoas pararam de vir e se comprometer e a gente precisa manter essa rotina, estabelecer diariamente e isso era uma dificuldade muito grande. A gente parou de trabalhar com voluntario e ficamos com estagiários de psicologia. A gente recebe uma média de 4 estagiários do Ceub e, agora, com o projeto da Fiocruz, mais 4 de serviço social.

Essa sede aqui existe há quanto tempo?

A sede a gente começou em 2022, a parte de cima, em 2023, a gente expandiu. Além dessa parte de cima, temos o térreo e o subsolo, porque o nosso principal viés é ocupação cultural e o espaço nos permite receber pessoas, mobilizar grupos, e guardar materiais para os eventos. A gente entende quando ocupa culturalmente um território  algumas populações que viviam ali passam a ser excluídas porque você muda a ocupação daquele espaço, ele vai mudando as condições sociais dele e trabalhar com a população em situação de rua é uma forma de possibilitar que eles se transformem junto e é uma população que já recebe diversos ataques. Durante a pandemia o GDF tirou todos os pertences deles na tentativa de retirarem eles do local.

Vocês também têm projetos de geração de renda?

A gente foca muito em projetos culturais, que é com o que a gente trabalha. Existe uma dificuldade, primeiro, de inserir a população em situação de rua no mercado de trabalho. Por exemplo, nós temos dificuldade de eles irem todos os dias para os cursos voltados a produção cultural, mas a gente tem também o banheiro social. Algumas das pessoas acompanhadas trabalham na limpeza do banheiro. Algumas pessoas ficaram, outras desistiram.

Em alguns momentos, a gente fazia um currículo para encaminhar essas pessoas para o mercado de trabalho, mas temos algumas dificuldades. Uma delas é a questão do endereço. Existe a dificuldade de contratar as pessoas sem um endereço por conta da situação de rua que eles se encontram. Outra é a manutenção da rotina, problemas com a hierarquização dos espaços de trabalho, onde as pessoas mandam e você obedece sem questionar. São pessoas acostumadas a reagir para sobreviver. É um processo, não é uma coisa que você consiga do dia pra noite. É a questão que a gente coloca, o que eles precisam fazer pra mudar a vida? O que você precisa? Preciso de uma casa, a gente tenta viabilizar via Codhab. A gente não pode dar nada, então isso precisa ser pensado, construído. É isso mesmo que você quer, sair da rua? É uma casa, só a casa garante isso? Uma pessoa que sempre viveu na rua e de repente vai para uma casa fica muito solitária.

Quem são os parceiros hoje do Instituto?

A gente tem parceiros por conta da rede comunitária que a gente faz e tem parceiros em projetos. A gente vive de doação, de editais para projetos, de emendas parlamentares. A gente precisa ficar o tempo todo captando recursos pra gente manter as nossas atividades. Nós temos como parceiros vários deputados que vão viabilizar as emendas. Mas, a gente tem a Professora Andrea Gallassi, que é da UnB, da terapia ocupacional e trabalha, também, com o uso medicinal da canabis. Muitas vezes a gente recorre ao Caps também. Quando alguém pede a ajuda, a gente, fala, vai no caps junto. Às vezes necessita tomar uma medicação e eles não vão. Eles da rua têm preconceito em relação ao Caps porque, às vezes são internados e tomam uma medicação. Mas eles estão aqui no território, às vezes ficam completamente desorientadas e as pessoas da rua pensam que aquilo é, em geral, efeito da medicação que dão no Caps.

É muito comum você ver população de rua fugir com a roupa que eles usam no hospital, eles têm medo de serem mortos ou deixados morrer. No SCS, é uma realidade que vivenciam na realidade do tráfico de drogas, e eles também tem muita preocupação das pessoas que se incomodam com a existência deles. Sendo essa uma realidade cotidiana, eles têm medo do que vão fazer em relação a eles no hospital. Eu durmo tranquilo assim?

E sobre a questão do banheiro público que existe aqui. Já foi causa de muita polêmica, não é?

Já existia um banheiro público aqui, existia a estrutura, mas ele estava fechado desde a construção dele. O plano de Brasília previa uma série de banheiros públicos, mas não teve manutenção. A gente reformou o banheiro e pedimos ao Estado para assumir a manutenção dele. A gente mantém o banheiro com doações. Muitos comerciantes locais reclamam que é o banheiro que chama muitas pessoas pra cá. O banheiro é muito usado pelas pessoas que transitam e trabalham no setor, como os ambulantes. O banheiro fecha às 16hs porque a gente não tem como pagar pessoas para ficar até mais tarde. Abre às 9h e fecha às 16h.

Muitos dormem aqui nessa quadra 5 do Setor Comercial Sul?

À noite muita gente vai dormir perto dos Correios. Eles ficam durante o dia por causa do trânsito de pessoas, para “manguear” (pedir dinheiro), mas à noite alguns vão dormir em lugar mais isolado. Antigamente, eles não montavam barracas pra ficar e dormir porque ficavam com medo de botarem fogo na barraca enquanto dormem. Hoje em dia, eles constroem toda uma fortaleza. Eles procuram madeira e vão construindo casas de madeirite e acho que isso vem incomodando cada vez mais. É por isso que a gente vem observando o governo retirando essas casas, como foi recente próximo ao Centro Pop.

O governo já falou também em tirar o Caps aqui do SCS

O Caps está sempre ameaçado. Da última vez, quando foi ampliar os CNAES (Classificação Nacional das Atividades Econômicas) do Setor Comercial Sul, o atual governo decidiu que não poderia haver serviços de saúde como o CAPS e de assistencial social no território, o que torna a permanência dele ilegal.  Um grupo em defesa da saúde mental tentou fazer uma negociação contra isso, mas o governo só se comprometeu a não retirar o que já existe aqui.

E as Unidades do Acolhimento pra onde algumas dessas pessoas são levadas?

Eu acho complicado essas Unidades de Acolhimento, é como se você saísse de um espaço totalmente sem regras claras e fosse levado para um espaço cheio de regras, o que diminui a permanência deles no espaço. Mas é uma medida para que tenham um espaço confortável para permanecer. Para esse serviço, eles devem demonstrar o desejo de ir e ver a disponibilidade diária de vagas.

Vocês têm enfrentado dificuldade financeira para manter o banheiro público do SCS. Vocês estão com uma campanha de arrecadação de recursos para a manutenção do banheiro?

O banheiro é adotado por nós por meio do programa “Adote uma Praça”. Durante a pandemia, conseguíamos pagar com tranquilidade as contas do banheiro e três funcionários. Passada a pandemia, as doações diminuíram muito, e nós passamos a ter dificuldade de arcar com os gastos que vão desde o pagamento dos funcionários (que são pessoas que viveram ou vivem em situação de rua), a materiais de limpeza e manutenção do espaço, que é coletivo. A gente está fechando a campanha de arrecadação agora, dia 02 de abril, e esperamos que dê certo. A dificuldade é que mensalmente temos que travar uma luta em busca de ampliar as doações e garantir os pagamentos, mas isso gera muita ansiedade e preocupação. A campanha visa arrecadar dinheiro para manter o funcionamento por mais um ano para que tenhamos tempo de planejar novas formas de arrecadação daí em diante.

O caso do Banheiro Comunitário do SCS foi levado por nós para o evento INSURGÊNCIAS: Experiências em Espaços Públicos é um evento que reúne o 8º Festival Internacional de Intervenções Urbanas (FIIU) e o 5º Encontro Placemaking América Latina que ocorreu no Rio de Janeiro em setembro de 2023.

Como está disposto no site do evento: “Por insurgência entendemos qualquer intervenção realizada que busque transformar o espaço urbano de forma tática, pontual, colaborativa e de alto impacto. Pode ser temporária ou permanente, material ou imaterial, local ou regional. O objetivo de uma experiência insurgente é promover a melhoria da qualidade de vida urbana por meio de ações que visibilizem outras formas de habitar o espaço gerando conhecimento através de processos de inovação urbana.”

O Banheiro foi apresentado como equipamento social que, além de servir como espaço de geração de emprego e renda para a população em situação de vulnerabilidade, garante o direito fundamental dessa população de usufruir de instalações sanitárias adequadas. Ele tem viés comunitário, onde os diversos atores do território se encontram e fazem uso do mesmo espaço: população em situação de rua, trabalhadores ambulantes, estudantes, segurados do INSS (agência próxima), comerciantes, passantes, etc.

Como funciona essa questão de emendas parlamentares que vocês têm conseguido?

A gente faz um projeto e articulações políticas para poder receber emenda. Em geral o dinheiro dessas emendas vai para o projeto que se vincula às pautas do parlamentar. Isso é uma dificuldade no que diz respeito às necessidades mais básicas e a própria manutenção do banheiro. Como vou pegar dinheiro dessa emenda para ajudar na manutenção do banheiro, sem que alguém queira investir em um projeto com esse objetivo? Isso a gente ainda não conseguiu.

Que tipos de projetos vocês têm?

Como a gente não trabalha só com população de rua, a gente tem projetos de ocupação cultural. Nós temos a escola carnavalesca que é uma escola de preparação de atores culturais, que faz formação de atores populares que atuam no território. Outro curso de capacitação social para quem quiser ser produtor cultural ou fazer projetos culturais de ocupação do território. A gente fala muito dos territórios, como eles se configuram e como a gente tem que respeitar a dinâmica daquele território pensando num processo de ocupação a partir daquele território. A ideia é fazer mudanças sociais a partir desses eventos.

A gente tem também esse olhar mais social do carnaval, de ser um espaço de direito de todo mundo, de pensar em ocupar a cidade e tornar a cidade mais carnavalizada no cotidiano.

Tem também o projeto Comitê de Cultura, em que o Rafael e o Caio são parte, eles são do Conselho de Culta do DF. E tem os projetos com a Fiocruz. Uma é de uma horta medicinal, que é feito com a Fiocruz. E o outro direcionado ao acompanhamento e emancipação da pop rua que vive no espaço do SCS.

Os parlamentares que nos apoiam são o deputado Fábio Félix, que nos ajudou muito no projeto de capacitação social. A deputada Erica Kokay possibilitou as duas emendas para Fiocruz. A senadora Leila do Vôlei também está se aproximando. Essa tem sido uma forma de a gente conseguir muita coisa. Nem sempre a gente consegue todos os requisitos para concorrer a um edital. Por exemplo, a gente tem que ter cinco anos de CNPJ ativo e nem sempre a gente se encaixa.

O que é projeto Setor Cine Sound?

Não é bem um projeto. A gente estava fazendo o Setor de Capacitação Social que é pra formar produtores culturais. O Cine Sound era o trabalho final do pessoal que fez essa capacitação e eles articularam o Cine Sound. Eles selecionaram os curtas que iam passar, fizeram o cenário. A gente não tem muito recurso para grandes eventos e tem dificuldades porque a gente não é instituição de educação e não consegue viabilizar pra eles o passe livre, mas o projeto tem tido bons resultados.

Antigamente a gente conseguia fazer festas aqui nessa área, mas por conta dos hospitais, que reclamavam do som, a gente só consegue fazer atividades diurnas no SCS. O espaço que a gente ainda consegue ocupar é a Galeria dos Estados. A gente quer também fazer uma horta aqui para transformar o espaço já que com cultura não está fácil pra ocupar o espaço público, mas aí os policiais reclamam porque esperam espaços limpos para que consigam ver tudo que está sendo feito ali e eles ficam preocupados com a (in)segurança que a horta pode trazer caso tentem esconder a arma branca na horta e a polícia fica atenta.

Qual sua avaliação das políticas públicas hoje no DF?

A gente gasta pouco em política pública em Brasília. A gente tem uma desigualdade social muito grande e muitas pessoas não conseguem pagar por serviços particulares. A gente tem um número pequeno de Caps, de Centros Pop. Outra coisa que existe é uma dificuldade grande dessas pessoas acessarem esses serviços públicos. É complicado para uma pessoa que sempre viveu na marginalidade, que são muito reativas, acessarem serviços que são burocráticos e cheios de limitações. Os serviços acabam quebrando o vínculo com essas pessoas e elas não conseguem permanecer. A pessoa rompe com o serviço ou o serviço rompe com o vínculo. O mesmo acontece com a escola. As pessoas em vulnerabilidade têm muita dificuldade de se manterem na escola, por conta do modelo que eles não se adaptam, porque eles têm um nível de urgência muito grande.

A gente precisa ser muito paciente no atendimento. Precisamos reconhecer o que outro tem de bom, respeitar muito a pessoa, não querer salvar ela. Acho que falta mais qualificação para as pessoas que atendem essa população.

Como vocês fazem encaminhamento para uma pessoa em situação de rua que pede ajuda em casos mais agudos de transtorno mental?

É muito difícil aqui ter alguém pedindo encaminhamento com problemas de álcool e drogas porque eles não reconhecem que precisam desse tipo de ajuda. Em geral, quem reconhece já procura direto um serviço de saúde. Às vezes chega alguém pedindo encaminhamento para uma comunidade terapêutica, o que a gente não faz. A gente conversa sobre outras possibilidades. A gente diz que tem um pessoal de comunidade aqui no território, a gente fala: “é uma opção sua”. Mas a gente não costuma encaminhar para uma comunidade terapêutica. Às vezes eu falo, vamos ali no Caps conversar com alguém e aí a gente leva pro caps. Agora, nós temos uma assistente social e uma profissional da saúde. Elas têm feito esse encaminhamento e a escuta.

É importante lembrar que a situação de rua está constantemente atrelada a transtornos mentais, sejam eles anteriores ou posteriores à condição de rua. Nesse sentido, a busca por garantia de direitos fundamentais por meio da articulação com políticas públicas é o primeiro passo: comida, saneamento, moradia. E depois, o respeito, o sentimento de pertença, a consciência de si, das próprias escolhas, e a construção de repertório para fazer escolhas mais autônomas podem ser desenvolvidos por meio da convivência. Esse é o propósito da escuta, das oficinas e das vivências comunitárias. A diferença é a nossa intenção de trabalhar com eles no contexto onde vivem, sem que precisem se deslocar até o serviço, ocupando o espaço que é público e não institucional.

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Celio Calmon

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